"... Sou-lhe grato , antes de tudo, porém, pelo prazer que me proporcionou fazendo-me conhecer os seus versos...
... Por isso e por tudo o mais, a sua poesia é de superior qualidade. E ao felicitá-lo, felicito-me a mim mesmo..."
(Pennafort)
"Somos formados com a substância dos sonhos e nossa curta vida está sitiada pelo sono."
(Shakespeare)
PRELÚDIO PARA O ANJO
Ó! ritmo andado entre os degraus da insônia
por luas dóceis e crepúsculos de aço,
vem dançar as utopias do teclado
com o pássaro morto num ângulo da origem;
(pássaro vestido de substâncias oníricas, para
que a Poesia acorde na garganta das árvores)
vem dançar até que as realidades se dependurem,
como frutos de ar, sobre o caminho de música.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1964
"E o Homem que sou se ignora
porque só cresceu por fora,
por dentro é o mesmo menino..."
COLOMBO DE SOUSA
O poeta Colombo de Sousa nasceu em 1920, em Colombo, cidade próxima de Curitiba. Ficou órfão muito cedo, o que o levou a trabalhar em vários lugares. Foi funcionário da Universidade do Rio de Janeiro e formou-se primeiramente em História e mais tarde em Direito.
Autor de vários livros de poesia e inclusive um de teatro, Colombo de Souza, em 'A Árvore do Sonho' se volta ao imaginário infantil.
Além desses, publicou treze livros, entre obras individuais e antologias.
Iniciou com a publicação de Painéis, em 1945 e como obras importantes,
todas em poesia, podem citar-se:
Desencanto, 1946;
Fuga, 1948;
O Hóspede e a Ilha, 1953;
Oráculo, 1957;
O Antípoda, 1959;
Estágio, 1960;
O Anúncio do Acontecido, 1968.
EXÉQUIAS PARA UM MENINO
Era tão branco esculpido
em sua pureza de anjo;
morreu para que a inocência
não se transformasse em Homem;
morreu esculpido, intato,
em sua pureza de anjo.
O piano mastiga o som
com sua branca dentadura
de teclados, mãos e gestos;
agora a cauda do piano
se alonga no seu mistério.
As águas crescem e sobem
pelo horizonte da tarde,
crescem mais sobre o menino
que dormiu no berço lírico
das manhãs. – Menino acorde
para brincar livremente
junto aos peixinhos do aquário,
onde os meninos do mundo
vão lutar contra piratas
e achar tesouros ocultos
entre castelos submersos.
-Desperte, menino, para
viver os sonhos, bebê-los! –
Apenas o pensamento
vai calafetando as frestas
do espaço – para que a chuva
não caia sobre o universo...
Mas a umidade (tão fria)
desce as paredes da insônia.
-Perdão, Senhor, é um menino!
manda lavá-lo, desperta-o,
está no fundo do sono;
cansou de brincar com o sonho,
cansou de brincar com a fome,
cansou de arrastar o corpo
equilibrado em delírios,
fustigado pelos raios.
Mães, amantes, bem-amadas,
colham lírios, colham rosas,
na vigência do crepúsculo,
para o anjo que ele foi.
Mães, amantes, bem-amadas,
ouçam as liquidas vozes
da origem perdida e achada.
Anjos sem rosto e sem nome
não pisam estradas, sonham
destinos e eternidades;
debalde as virgens anseiam
e esperam sem esperanças.
Vai longe o menino, segue
pela rua submarina
em seu escafrando autêntico;
talvez até se adivinhe
inteiro no antepassado,
mirando-se nos seus ecos,
nos seus cabelos e orelhas.
Joguemos todo o lirismo
sobre seus passos e gestos
coloridos de saudade,
para vê-lo, para ouvi-lo
transpor a porta entreaberta...
-Adeus, menino, o endereço
da cidade está nas flores
que vicejam do seu corpo;
não se detenha brincando,
percorra o tempo encontrado
junto às manhãs, no caminho.
Colombo de Sousa
In: Antologia Poética
TEORIA DA AMADA IMÓVEL
Como falar àquela voz tão ontem,
se a vida dorme no interior da sala?
Venham, amadas, desfilando, contem
onde ficou a que perdeu a fala?
Lá fora um eco, a procura-la, - contem . . . –
e onde o sonho sonhou a dor se instala;
-como falar àquela tão ontem
se o Tempo até parou para escutá-la?
Gestos remotos que se põem de joelhos,
silêncios dos que não são destinados,
nem se buscam na imagem dos espelhos;
Vocábulos de sangue soterrados
na memória, ainda muito mais vermelhos
na moldura de céus apunhalados.
se a vida dorme no interior da sala?
Venham, amadas, desfilando, contem
onde ficou a que perdeu a fala?
Lá fora um eco, a procura-la, - contem . . . –
e onde o sonho sonhou a dor se instala;
-como falar àquela tão ontem
se o Tempo até parou para escutá-la?
Gestos remotos que se põem de joelhos,
silêncios dos que não são destinados,
nem se buscam na imagem dos espelhos;
Vocábulos de sangue soterrados
na memória, ainda muito mais vermelhos
na moldura de céus apunhalados.
Ela foi o brinquedo dos brinquedos
que eu tive em minhas mãos. A infância veio,
passou, eu permaneço. Já não creio
haja outro corpo feito de segredos.
O véu aqui ficou entre meus dedos
longos. Era mistério, decifrei-o.
Agora que partiu, sinto-me alheio,
sem mim e ausente de meus próprios medos.
E como poderei reconhecê-la
se ela já não é mais a que procuro?
(Tão frio aqui é seu calor de estrela;
rosa que a treva cimentou ao muro).
Nem é mais cor, é apenas sonho aquela
voz de cristal, a tilintar no escuro.
que eu tive em minhas mãos. A infância veio,
passou, eu permaneço. Já não creio
haja outro corpo feito de segredos.
O véu aqui ficou entre meus dedos
longos. Era mistério, decifrei-o.
Agora que partiu, sinto-me alheio,
sem mim e ausente de meus próprios medos.
E como poderei reconhecê-la
se ela já não é mais a que procuro?
(Tão frio aqui é seu calor de estrela;
rosa que a treva cimentou ao muro).
Nem é mais cor, é apenas sonho aquela
voz de cristal, a tilintar no escuro.
Tão longe e ali vestida de ar. Cavalga
o eterno espelho, além da própria imagem.
Sonham estrelas nesse olhar, retroagem,
no tempo andado, ao seu momento de alga.
O azul nas mãos. Manhãs entre os cabelos.
Tão branco é o luar perdido em seu distrito
que andam pés de cetim pelo Infinito,
vozes de lã se enrolam em novelos,
O mesmo olhar de lua embalsamada,
distante e ainda se procura em cada
degrau que sobe a escada luminosa.
Em que jardim hei de colher a rosa?
Procura que se perde no abandono,
praia de amor no litoral do sono.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1960
o eterno espelho, além da própria imagem.
Sonham estrelas nesse olhar, retroagem,
no tempo andado, ao seu momento de alga.
O azul nas mãos. Manhãs entre os cabelos.
Tão branco é o luar perdido em seu distrito
que andam pés de cetim pelo Infinito,
vozes de lã se enrolam em novelos,
O mesmo olhar de lua embalsamada,
distante e ainda se procura em cada
degrau que sobe a escada luminosa.
Em que jardim hei de colher a rosa?
Procura que se perde no abandono,
praia de amor no litoral do sono.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1960
CANTIGA DO HOMEM APAGADO
Quem navega alcança
seu passado morto,
ainda há esperança
no exilado porto;
se já foi criança
na inefável ilha,
volta à semelhança
com que se partilha;
nau tornada ao porto
branco e desejado:
-o menino é morto?
O homem apagado?
Quem não lê o destino
não decifra o sonho:
-o homem é o menino
do País do Sonho.
Colombo de Sousa
In: Antologia Poética
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